domingo, 21 de abril de 2013

Papa Francisco, Santo Agostinho e os pastores


O Evangelho de hoje fala de Cristo o Bom Pastor, e o Papa Francisco aproveitou a oportunidade da Missa de hoje (e por presidir a ordenação de 10 novos sacerdotes) para dar mais um puxão de orelhas nos que exercem o munus sacerdotal: "Sejam pastores, e não funcionários. Sejam mediadores, e não intermediários".

Recentemente o mesmo Papa Francisco pediu aos sacerdotes que estes sejam pastores com cheiro de ovelhas, que vivam tanto entre elas que passem a exalar seu perfume. 

Interessante esta preocupação do Santo Padre, pois demonstra que ele busca animar os sacerdotes a verdadeiramente exercerem suas funções para aquilo que foram chamados: serem pescadores de homens e pastores de ovelhas. Muitos estão cansados ou desanimados, e sua fé não passa da leitura de palavras escritas, quase como se apenas fossem jogadas palavras ao vento. Se busca não só acreditar no que se está lendo, mas sim proclamar com força e vida, além de vivenciar e colocar em prática.

Claro que temos o problemas de muitas ovelhas rebeldes que resistem às vozes de seus pastores, mas da mesmo forma existem muitos que não conseguem seguir os pastores porque estes não usam suas vozes como instrumentos de Cristo.

Faz algum tempo que eu li um livro lançado pelo Prof. Felipe Aquino com textos dos santos Padres escritores dos primeiros séculos da Igreja, em que tem um texto de Santo Agostinho que trata do problema dos maus pastores, e ao ver a notícia do que foi dito hoje pelo Papa Francisco, lembrei dele:
(...) Por esta razão ouvi, pastores, a palavra do Senhor. Mas, pastores, ouvi o quê? Isto diz o Senhor Deus: vou intimar os pastores e reclamarei de suas mãos as minhas ovelhas (Ez 34,9).
Ouvi e ficais sabendo, ovelhas de Deus: Ele reclama dos maus pastores as suas ovelhas e pede-lhes contas das que morreram. Em outro lugar diz pelo mesmo Profeta: Filho do homem, eu te constituí sentinela na casa de Israel. Ouvirás uma palavra da minha boca e alertá-los-ás de minha parte. Se eu disse ao pecador: ‘Morrerás por certo’ e tu não a repetires para que o ímpio abandone seus caminhos, ele, pecador, morrerá com seu pecado, mas exigirei de tua mão seu sangue. Se, ao contrário, advertires o pecador que deixe seu caminho e ele não quiser dele se afastar, morrerá por seu pecado, mas tu livrarás tua alma (Ez 33,7-9).
Que quer isto dizer, irmãos? Vedes como é perigoso calar? Morre o ímpio e morre justamente; morre em sua impiedade e em seu pecado; sua indiferença o matou. Pois poderia encontrar o pastor interessado que diz: Por minha vida diz o Senhor. Mas por ser indiferente e não advertido por aquele que é guarda e sentinela, é justo que morra aquele e que este seja condenado. Se, porém, disseres ao ímpio a quem ameacei com a espada: Morrerás por certo e ele nada fizer para evitar a espada, esta virá e o matará. Morrerá por seu pecado; tu, porém, livraste tua alma. Por isto, a nós, cabe-nos calar; a vós, mesmo se calarmos, cabe ouvir pela Sagrada Escritura as palavras do Pastor.
Vejamos, portanto, assim me havia proposto, se retira as ovelhas dos maus pastores e as dá aos bons. Vejo-o tirando as ovelhas dos maus pastores, quando diz: Vou intimar os pastores e reclamarei de suas mãos as minhas ovelhas e os afastarei de modo que não mais apascentem minhas ovelhas; e os pastores não mais se apascentem. (Ez 34,10). Eu disse-lhes que apascentassem as minhas ovelhas, mas eles apascentam-se a si mesmo e não as minhas ovelhas. Por isso, não permitirei que apascentem mais as minhas ovelhas.
Como é que afastará, a fim de que não mais apascentem suas ovelhas? Fazei o que dizem, não o que fazem (cf. Mt 23,3).
Como se dissesse: Dizem o que é meu, fazem o que é seu. Quando deixais de fazer aquilo que os maus pastores fazem, estes não vos apascentam; quando fazeis o que dizem, sou eu que vos apascento. (...)
(Alimento Sólido, Ed. Canção Nova, págs. 149-150)

Vemos que a preocupação do Papa Francisco não é nenhuma novidade na Igreja, mas sim algo que já vem de séculos atrás, algo que traz problemas grandiosos na condução do povo até Deus. Os maus pastores, aqueles que ficam calados e não se deixam conduzir pelo Bom Pastor, perdem suas ovelhas com grande facilidade. E serão cobrados por Deus pelas ovelhas que não cuidaram e deixaram morrer.

Assim, espero que as palavras do Papa Francisco, que hoje fazem eco às palavras de Santo Agostinho, sirvam para que os pastores (sacerdotes, bispos e até mesmo o Papa) sejam fiéis ao seu chamado vocacional, e que nós, as ovelhas, nos deixemos guiar pela voz de nossos pastores.
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Fica autorizada a reprodução integral deste post, desde que citada a fonte conforme texto a seguir:
BRANDALISE, André Luiz de Oliveira, Papa Francisco, Santo Agostinho e os pastores, publicado em 21/04/13 no blog “André Brandalise” - http://alobrandalise.blogspot.com/2013/04/papa-francisco-santo-agostinho-e-os.html

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